segunda-feira, 7 de junho de 2010

DICAS DE FILMES


Vez ou outra neste blog, ouso conferir alguns dicas de filmes. Não há critério de indicação. Apenas assisto ou volto a assistir algum filme e avalio se vale a pena compartilhá-lo. Ontem, assisti mais uma vez, o grande filme "Táxi Driver", de Martin Scorsese.

Este filme eu vi pela primeira vez na Globo de madrugada, voltando de uma balada noturna. É um filme da década de 70 (se não me engano, de 1976) e um tanto quanto forte. A Globo acabou relegando-o (injustamente) às madrugadas esticadas do "Corujão" (uma pena). Desde a primeira vez que o vi, fiquei louco pela estética e pela sua história, aparentemente sem rumo (aparentemente).

Caso optemos analisar este filme sob uma perspectiva conjuntural, podemos dizer que a obra de Scorsese (diretor) e Schrader (roteirista) é uma crítica subliminar à Guerra do Vietnã e os restos por ela deixados em cada esquina das grandes cidades americanas, no caso do filme, Nova York. Apesar dessa sugestão, não há nada panfletário no filme (graças a Deus), mas sim uma linguagem fortíssima e um visual duro, de cores fortes.

Nota-se pela janela do táxi do personagem principal, a enorme degeneração reinante, com personagens zanzando madrugada adentro. Também percebe-se logo a descrença como ideologia matriz. Essa descrença política e social perpassa o filme quase todo e acaba sendo muito bem representada na passagem em que Travis, personagem principal, defendido de corpo e alma por De Niro, conversa com um presidenciável que entra no seu táxi. O candidato pergunta o que mais incomoda o taxista no seu dia-a-dia. Travis dá uma resposta contundente, que deixa o político desconcertado e sem soluções fáceis para dar: "Acho que é preciso limpar essa cidade. Parece um esgoto. É cheia de sujeira, de escória".

Evidentemente que o "lixão" referido por Travis é o social, o racial.

O Travis interpretado por Robert De Niro é um atormentado. A base do seu tormento é a confusão das suas idéias que se misturam ao caos novaiorquino em que vive no pós-Guerra do Vietnã. Esse personagem é muito complexo e instigante. Em alguns momentos, ele apenas deseja "organizar" a sua vida ao lado da bela mulher dos seus sonhos (representada no filme por Cybill Shepperd). Em outros, tomado pela cólera, Travis almeja limpar toda a sujeira da cidade. Para esse fim, ele passa a ignorar o individualismo do seu umbigo e volta as suas forças desenfreadas para ajudar uma prostituta infantil que encontra na madrugada. A personagem de 12 anos, interpretada por Jodie Foster, é explorada por toda escória odiada por Travis: cafetões e donos de quartinhos de quinta categoria alugados exclusivamente para fins libidinosos. Ali está a chance de Travis limpar a sujeira de Nova York, nem que seja através de um banho de sangue.

Quem será que triunfa no final, o "torto" personagem (que escreve a sua história por linhas tortas) ou o duro status quo?

Ouso dizer que em poucos momentos do cinema, as neuras de um artista foram tão escancarados na tela quanto em "Táxi Driver". Scorsese, De Niro e Schrader destilaram a complexidade das suas mentes sujas e geniais nesta obra-prima. VALE VER.

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